quarta-feira, 7 de julho de 2021

Empatia

Ilustração por Gracia Lam para nytimes.com
 

Hoje, resolvi falar sobre empatia!

Há alguns dias tenho tentado analisar mais o meu comportamento em relação às pessoas.  Não sou de falar sobre seus defeitos, mas isso não significa que eu não pense neles. Pensando melhor... Eu me meto sim! Porque tento opinar quando acho que pode ser bom para o próximo e isso tem me feito refletir muito nestes últimos dias. Apenas tenho pra mim que cada um tem sua vida e é o único responsável por ela depois de se tornar adulto, ou seja, não costumo cuidar da vida alheia. Entretanto, eu penso na vida alheia. Sempre me coloco nas posições delas meditando sobre seus problemas e quando posso, eu tento ajudar.

Costumo sempre achar que os problemas das pessoas são simples de resolver, porém, tenho consciência de que isto ocorre pelo simples fato de eu olhar os mesmos sob uma ótica objetiva, trabalhando limpamente e observando do lado de fora e principalmente, baseada apenas na lógica e nas experiências que já vivi. 

Aconselhe alguém que se separe de seu companheiro que lhe faz mal, mas, se sentirmos a dor da pessoa, o conselho continua tão simples assim?

Por isso tenho pensado tanto no assunto. Venho conversando bastante com uma prima que têm gêmeos, e ambos têm feito terapia para tratamento de autismo. Minha prima não tem um diagnóstico ainda, mas analisando as dificuldades dela me vi várias vezes do outro lado. Faltando com empatia exatamente com outras mães que passam pelo mesmo problema. 

Ela relatou sobre um dia estar no Posto de Saúde e ter dificuldade em manter seu baby quietinho, entretido e sem chorar escandalosamente enquanto outras mães a olhavam com cara feia. 

Não fosse as conversas que tenho com minha citada prima, jamais diria que seu filho é autista. Não parece. Se olharmos atentamente para os meninos, não perceberemos diferença nenhuma de outras crianças, apenas se comportam de maneira diversa.

Posso ter, por diversas vezes olhado feio para uma "minha prima".

Depois dessa nossa conversa, eu me deparei com a mesma situação em um hospital e quando vi a criança aos berros e tentando bater na mãe eu apenas olhei pra ela e sorri. Não foi fácil fazer isso de coração, mas imaginei minha prima naquele momento.

De repente, essa mãe relaxou os ombros e sorriu pra mim, como se eu a entendesse, foi mágico aquele momento, mas ele não teria existido se não fossem horas de conversa com a minha prima Nê.

Isso me fez pensar em quantas vezes na vida não tive empatia; no trânsito, no transporte, na fila, na rua, e tantos outros lugares. 

A atitude positiva sempre traz resultados. É impressionante

Isso ocasiona o efeito bumerangue.

O que damos é o que volta pra nós. 

Trabalhei como cabeleireira por anos. É engraçado como normalmente as clientes me viam como se eu sempre fosse menos do que elas, mas quando percebiam que já viajei mais, ou que tinha mais estudo, mudavam seu comportamento imediatamente e de forma surpreendente. Começavam a me tratar como amigas, não eram todas as clientes que faziam isso, mas era muito comum.

Eu acreditava que elas precisavam de mim, não só para se sentirem melhores com sua auto estima fazendo cabelo, maquiagem ou uma sobrancelha, mas sempre me colocava pra ouvi-las, isso me rendeu experiências, sem precisar viver muitos fatos. 

Quando eu chegava, por diversas vezes, surpreendia clientes que estavam gritando com os filhos, falando de forma grosseira com as pessoas que as serviam, ou apenas com olhares fechados e sisudos, e eu logo dizia: Quer pegar uma água antes de começarmos? Seu celular? Pode aproveitar o momento pra relaxar, sempre ouvia como resposta um grande suspiro, um suspiro de alívio. E muitas vezes era seguido de um desabafo. Mães exaustas, avós cansadas, pessoas que tinham o meu serviço realmente como um momento de lazer. Lazer este que tem sido tão escasso. Cortar o cabelo virou lazer, por ser um cuidado.

Depois de ouvir, eu sempre perguntava o que lhes fazia bem, o que elas gostavam de fazer, mesmo que não tivessem mais tempo de fazer, elas sentiam a sensação prazerosa quando relatavam o que gostavam de fazer e isso trazia a sensação de bem estar.

Mães adoram contar as histórias dos seus filhos, o quanto eles as fazem felizes e também quanto às deixam exaustas, os maridos idem, mas ambos não têm mais saco de se ouvirem falar dos filhos. Pior que isso, também não tem tempo de conversar sobre outros assuntos que lhes fazem bem. 

Não é fácil se colocar no lugar dos outros, e não digo isso porque acho difícil me imaginar nas situações. O que acho difícil é analisar sentimentos. 

Hoje em dia se ouve falar muito sobre lugar de fala, acho que entendo melhor o que quer dizer.

Consigo compreender melhor a situação das mães que tem filhos com autismo, mas nem de longe consigo entender o que elas sentem de verdade.

Consigo entender o que uma mãe exausta vive, já passei por este lugar de fala, mas cada mãe vive sua exaustão pessoal, às vezes com um divórcio que não conseguem dividir, um câncer que ainda é segredo, um amor não esquecido, e tantas outras situações que desconhecemos. Mas ainda assim tanta gente tenta estar no lugar de fala. 

Julgar pela capa é no mínimo, injusto! 

Por isso vemos tantos grupos, tantas panelas, tantas comunidades. Transexuais, bissexuais, mães de autistas, mães solteiras, homens que traem, homens que jogam bola pra sair da espiral esmagadora, todos procurando um espaço pra serem compreendidos, pra dividir experiências, pra que o próximo, vivendo as mesmas situações, entendam seus motivos. 

Sempre me ponho a pensar que se eu conseguir ser empática com o que não seria meu lugar de fala, eu aprendi, eu evolui.

Quero ter empatia, quero conhecer outras histórias, quero saber, abraçar e sentir a satisfação daquele conforto, com aquela mãe, naquele hospital.


Agradecimento: Agradeço a Lucidio Bolivar Ramos pela edição de meu texto, somando a ele, sensibilidade linguística significativa e carinhosa. 


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