terça-feira, 23 de março de 2021

PAI DE MENINA

Hoje aconteceu uma cena que me colocou pra refletir pra variar, em mais uma noite em que não consegui pregar os olhos.

Estava me lembrando da aula on line da minha filha e na sua pausa, aproveitamos para, como todos os dias desde que ela nasceu, almoçarmos juntos, isso é importante pra mim, afinal, quantas famílias gostariam de ter esse privilégio e uma das coisas que me faz trabalhar em casa com prazer são as nossas refeições.

Após o almoço, minha pequena correu a geladeira pra pegar a torta de que ela fez com o pai um dia antes. Uma torta que foi feita por uma grande amiga em nossa casa, que minha filha amou e atualmente fazemos sempre que podemos, pois é, ela fez a torta com o pai ontem, um dia em que eu numa tarde extremo cansaço me puz na cama.

Sarah minha pequena, me vendo caída, pediu ao pai para me fazer uma surpresa e a surpresa foi, os dois na cozinha fazendo a torta. Ele, algumas vezes, foi ao quarto pois apanhava com a receita, tirava alguma dúvida do tipo como fazer claras em neve (risos), e, enquanto ela foi posta no banho, depois de um pequeno surto do pai, pra tentar fazer as claras virarem neve, fui a cozinha e bati as claras. 

A minha cara de feliz quando vi a torta pronta na mesa era nada, perto do sorriso dela em me mostrar a surpresa. Mas, voltando ao intervalo da aula, ainda tinha torta na geladeira e dividimos, após o almoço, o restinho que sobrou de ontem e estava deliciosa!

Sarah voltou a aula e disse: -  Professora, hoje está sendo um dia muito feliz na minha vida! 

A professora perguntou: - O que te fez tão feliz Sarah?

Este é o momento de contextualizar meu relato.

Tenho feito um livro de receitas com a Sarah, pra ela treinar a escrita e ter uma recordação de infância. Ela escreve cada receita que cozinhamos juntas, decora as folhas com pequenos adesivos, coloca a data da primeira vez que fazemos a receita, e vai para um grande fichário que tem crescido pelo menos a cada quinze dias.

Ontem brincamos de escolinha onde fiz pelo menos quatro atividades com ela de professora.

Jogamos Xadrez, que, por sinal ela está me ensinando.

Montamos casinhas para ela e para as bonecas nas pequenas folgas que tenho, feitas de caixas de papelão e guache, as vezes com colagens de papéis coloridos. 

Tem dias que montamos fantoches com caixas de leite, colorimos vários desenhos que ela escolhe a dedo, montamos jogos de tabuleiros com as regras inventadas pela Sarah. Ah! Mas uma das coisas que ela mais ama é plantar! Nós temos um quintal cheio de plantas e não há um vaso que ela não tenha ao menos apertado a terra. 

Neste momento eu parei, e num misto de orgulho e indignação olhei pro pai dela e disse: É justo isso?

Eu lavo, passo, cozinho, cuido quando tem febre, faço livro de receitas, vivo colando papéis e o dia mais feliz é quando ela come a torta que foi feita com o pai?

Ele riu e me perguntou: Você passa? 

Rimos juntos.

Sou uma péssima dona de casa, tenho que admitir.

Meninas; elas tem veneração por seus pais!

O pai da Sarah, que neste texto não vou falar do marido e sim do pai, é um pai muito presente. Ele brinca, ele também cuida durante as dores de garganta, pra ser franca ele faz curativo bem melhor do que eu, não sei lidar muito bem com os escândalos da Sarah a cada arranhão e normalmente tenho ataques de riso quando ela sofre por um furinho no dedo, já ele, coloca até Band aid. 

Me pus a pensar na minha mãe, que corria tanto na minha infância cozinhando, limpando, levando e buscando na escola, era ela quem batia na gente, ela era que parecia uma mocreia e eu tantas vezes tive raiva dela ser tão mandona, era ela quem nós disciplinava.  Mas quando meu pai chegava do trabalho eu corria pra tirar seus sapatos, pegar tudo que ele queria e ajudar pra que ele descansasse de um dia de trabalho. Ele sentava no sofá e minha mãe ainda tinha que cuidar da cozinha depois da janta. 

A gente não vê nada disso, é tão de costume, que não vemos como trabalho, o dia corrido que ela normalmente tem. E o carinho da comida quentinha, da toalha limpa na hora do banho, do cheiro do arroz quase pronto.

Hoje, quando vou visitar minha mãe eu só quero um prato da comida fresquinha, hoje eu vejo carinho quando ela cozinha, vejo carinho quando ela pica a laranja dizendo que preciso comer porque tem vitamina C. 

Me lembro da frase que sem querer já escapei pra Sarah algumas vezes... Quando você for mãe você vai entender. Eu preciso te ensinar o que é certo e o que é errado, doendo ou não. Quero que você seja uma boa pessoa quando for adulta! 

E naquele momento a Sarah respondeu a professora: Hoje é o dia mais feliz pra mim porque estou comento a torta que eu fiz com meu pai.

Fiquei com ciúmes quando a professora perguntou, eu sabia a resposta, mas fiquei feliz porque isso significa que ela tem um pai incrível, que é presente e que faz diferença na educação e na formação da minha pequena. 

Obrigada Oliver por ser um Pai de menina apaixonante.

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