domingo, 26 de julho de 2020

A violência e o abuso

Começo este texto falando sobre Pedofilia. Porque? Porque é a violência na primeira idade.
Claro que não acontece apenas com meninas, conheci casos onde meninos acreditam terem se tornado gays por conta da pedofilia, abusados e transformados por conta deste crime.
Quando falamos de pedofilia, logo imaginamos cenas de abuso infantil, cenas que nos chocam e nos encolerizam, cenas que nos ferem apenas de imaginarmos.
Agora eu quero que pense nos próximos 30, 40 ou 70 anos daquela pessoa que sofreu tal agressão.
As cenas da pedofilia duram minutos, horas, mas não acabam ali, se expandem por dezenas de anos. A vida desta criança é transformada, nunca mais um carinho será apenas um carinho, toda vez que essa pessoa é tocada, ela é transportada a sensações que muitas vezes não são identificadas mas carregam uma bagagem de desconforto.
A pedofilia precisa de terapia, não só na criança violentada, mas na adolescente que terá reações alteradas e desconhecidas, na adulta que terá problemas extremos de relacionamento e vai demorar pra associar a violência infantil, isso se um dia fizer essa associação, na mãe que terá loucuras aos cuidados destinados aos seus filhos, a avó que vai chorar desequilibradamente quando se der conta de como sua vida podia ter sido diferente. 
Um abraço de amigo poderia ter sido tão mais gostoso se não fosse o medo carregado de uma infância violentada.
Quando acaricio o corpinho da minha filha, sinto o desconforto de que, de alguma forma posso transportar pra ela a agonia que aquele toque é no meu corpo. 
Acariciar seu filho associando aquele toque a um abuso é triste. 
Quando você imagina que seu filho ou filha podem por um descuido viver uma violência, isso te enfurece, te torna leoa, te leva aqueles exatos momentos de infância que embrulham o estômago, aumentam seu batimento cardíaco, mudam a sua respiração e muitas vezes fazem seu coração doer. 
A questão é que isso acontece quando seu filho vai no colo de qualquer conhecido, quando seu filho entra na perua escolar, quando atrasa 1 minuto para chegar. Todas aquelas reportagens que reviram seu estômago que você ouviu nos noticiários se tornam uma insegurança que te faz sentir que vai infartar. E quando a perua escolar aparece lá no final da rua, sua perna perde a força e um alívio vai te trazendo de volta a realidade.
Eu só percebi que vivia essa angústia todos os dias da minha vida quando iniciei a terapia. 
Não fui violentada, sofri abuso! E minha vida nunca mais foi a mesma. 
Quando penso nas mulheres e crianças violentadas me enfurece, tenho vontade de lutar por elas, de dar as mãos e dizer, estou aqui, você não é mais tão frágil, conta com a minha força.
Pessoas violentas são covardes, se aproveitam da fragilidade de outro ser humano para se satisfazer, violentando, abusando, roubando uma infância, roubando a força, digo isso porque o homem que grita com sua esposa, a violenta também, ele só tem essa postura porque é covarde, o homem que inibe sua esposa criticando suas roupas, seu modo, seus conhecidos, outro covarde, se estas mulheres tivessem de mãos dadas, não teriam medo de enfrentar a covardia destes humanos desumanos. 
O medo de denunciar, o medo de se sentir abandonada, o medo de se sentir culpada mesmo quando se é vítima faz o silêncio de tantas mulheres, tantas crianças.
Não se cale, quando você assume, sem vergonha que foi vítima, descobre que não foi a única, descobre que não está só, descobre que a vergonha não deve ser sua e sim do desumano que a abusou. Ele é culpado, ele é errado, ele é agressor.
Eu sofri pedofilia, e depois que resolvi dizer isso sem ter vergonha, descobri que no meu pequeno núcleo em média 80% das mulheres que conheço também foram abusadas ou violentadas sexualmente, não é agressão verbal não, é física! Você ganha uma mão, você fica mais forte. Nós somos mais fortes juntos.
Brigamos por um mundo melhor, alertamos para que a próxima geração tenha menos de um sentimento tão ruim e que não dura apenas no ato, é levado para toda uma vida.
Você ouviu seu vizinho agredir a esposa? Denuncie! Não permita! Não se cale! 
O seu silêncio dá força ao agressor e não a vítima que precisa de amparo. 
Me dê a mão, e ajude tantas mulheres, tantas crianças, tantos gays, lésbicas, transexuais a se sentirem amparados. Não aceite a piada que discrimina, não aceite o desrespeito, amanhã, esse mesmo agressor, pode estar do lado de quem você ama! Faça pelo próximo, para que o próximo faça por você. 

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